“Porque a vida de quem amamos não é só a que lá está mas a que nós lá pusemos para depois irmos gastando. Ainda agora, vê tu. Amar-te ainda na memória difícil. (...) Recuperar o impossível de quando te amei e não de quando o amor se possibilitou. Porque o inacreditável é que se ama, querida, e não o que é real, que diabo me importa agora o que é real? O real é estares morta, mesmo o real não o sei pensar.”
“Senta-te ao meu lado, estende os pés ao luar sem dizer nada: ao fim de muitos anos aprendemos a verdade, na aparição da graça, num limiar de presença...”
“Assim, quantas vezes, desperto e abandonado, não entrei pela noite dentro, aguardando não bem a madrugada nem o meu sono final, mas o vazio absoluto de um nunca mais para o passado e para o futuro.”
“-Porque é que, no silêncio da noite, nos assusta falar em voz alta? Nunca fizeste essa experiência? (...) Era preciso fazê-la. Mergulhados no silêncio nocturno, sentimo-nos não existir.”
“Sê calmo até à estupidez como a vida. E todavia. Dar a volta por quanto existi - e exististe tanto. Porque uma vida humana. Como ela é intensa. Porque o que nela acontece não é o que nela acontece mas a quantidade de nós que acontece nesse acontecer.”
“A felicidade não está no que acontece mas no que acontece em nós desse acontecer. A felicidade tem que ver com o que nos falta ou não na vida que nos calhou. Devo dizer-te que me não falta nada, quase nada.”