“De repente do riso fez-se o prantoSilencioso e branco como a brumaE das bocas unidas fez-se a espumaE das mãos espalmadas fez-se o espanto.De repente da calma fez-se o ventoQue dos olhos desfez a última chamaE da paixão fez-se o pressentimentoE do momento imóvel fez-se o drama.De repente, não mais que de repenteFez-se de triste o que se fez amanteE de sozinho o que se fez contente.Fez-se do amigo próximo o distanteFez-se da vida uma aventura erranteDe repente, não mais que de repente.”
“Deve-se a construção do convento de Mafra ao rei D. João V, por um voto que fez se lhe nascesse um filho, vão aqui seiscentos homens que não fizeram filho nenhum à rainha e eles é que pagam o voto, que se lixam, com perdão da anacrónica voz.”
“Criança Cabecinha boa de menino triste,de menino triste que sofre sozinho,que sozinho sofre, — e resiste,Cabecinha boa de menino ausente,que de sofrer tanto se fez pensativo,e não sabe mais o que sente...Cabecinha boa de menino mudoque não teve nada, que não pediu nada,pelo medo de perder tudo.Cabecinha boa de menino santoque do alto se inclina sobre a água do mundopara mirar seu desencanto.Para ver passar numa onda lenta e friaa estrela perdida da felicidadeque soube que não possuiria.”
“- Com mil raios! - exclamou de repente o Cruges, saltando de dentro da manta, com um berro que emudeceu o poeta, fez voltar Carlos na almofada, assustou o trintanário.O break parara, todos o olhavam suspensos; e, no vasto silêncio da charneca, sob a paz do luar, Cruges, sucumbindo, exclamou:- Esqueceram-me as queijadas!”
“O que você fez pela ciência hoje? Pare de fazer coisas por Deus, ele se intitula todo-poderoso, não precisa de você. Faça algo pela ciência, pelo amor de Deus!”
“Primeiro surgiu o homem nu de cabeça baixa. Deus veio num raio. Então apareceram os bichos que comiam os homens. E se fez o fogo, as especiarias, a roupa, a espada e o dever. Em seguida se criou a filosofia, que explicava como não fazer o que não devia ser feito. Então surgiram os números racionais e a História, organizando os eventos sem sentido. A fome desde sempre, das coisas e das pessoas. Foram inventados o calmante e o estimulante. E alguém apagou a luz. E cada um se vira como pode, arrancando as cascas das feridas que alcança.”
“Chove. Que fiz eu da vida?Fiz o que ela fez de mim...De pensada, mal vivida...Triste de quem é assim!”