“Estamos absurdamente acostumados ao milagre de que uns poucos sinais escritos são capazes de conter imagens imortais, espirais de pensamentos, novos mundos com pessoas vivas que falam, choram e riem. Aceitamos isso com tanta simplicidade que de certo modo, pelo próprio ato da aceitação insensível e rotineira, desfazemos a obra de todos os tempos, a história do desenvolvimento gradual da descrição e construção poéticas, do hominídeo a Browning, do troglodita a Keats. Que aconteceria se acordássemos um dia, todos nós, e descobríssemos que éramos totalmente incapazes de ler? Quero que vocês se maravilhem não apenas com o que lêem, mas com o milagre de que algo seja passível de ser lido.”
“Ah, o tempo é o mágico de todas as traições... E os próprios olhos, de cada um de nós, padecem viciação de origem, defeitos com que cresceram e a que se afizeram mais e mais.”
“(...)é um fato que a história do Estado liberal coincide, de um lado, com o fim dos Estados confessionais e com a formação do Estado neutro ou agnóstico quanto às crenças religiosas de seus cidadãos, e, de outro lado, com o fim dos privilégios e dos vínculos feudais e com a exigência de livre disposição dos bens e da liberdade de troca que assinala o nascimento e o desenvolvimento da sociedade mercantil burguesa.Sob esse aspecto, a concepção liberal do Estado contrapôe-se às várias formas de paternalismo, segundo as quais o Estado deve tomar conta de seus súditos tal como o pai de seus filhos, posto que os súditos são considerados como perenemente menores de idade. Um dos fin a que se propõe Locke com seus 'Dois ensaios sobre o governo' é o de demonstrar que o poder civil, nascido para garantir a liberdade e a propriedade dos indivíduos que se associam com o propósito de se autogovernar é distinto do governo paterno e mais ainda do patronal.”
“Portanto - disse a Srta. Tilney -, a senhorita crê que os historiadores não são felizes ao deixar sua imaginação voar. Eles demonstram possuí-la, mas não conseguem despertar o interesse. Eu gosto de História, e não me importo de aceitar o que é falso junto com o que é verdadeiro. Para descrever os fatos principais, eles buscam informações em registros e em outros livros que são tão confiáveis, creio eu, quanto qualquer coisa que não se passe diante de nossos próprios olhos. E quanto aos pequenos adornos aos quais se refere, são apenas adornos, e gosto deles como tal. Se um discurso for bem escrito, eu o lerei com prazer, não importa quem seja o autor. E leio com mais prazer ainda se tiverem sido produzidos pelo Sr. Hume e pelo Sr. Robertson do que se fossem as palavras genuínas de Caractacus, Júlio Agrícola ou ALfredo, o Grande.”
“Sorvia o ar, farejando-lhe o almíscar virginal. E fazia de conta que não a procurava, escusando-se com fingida surpresa:- Pensei que fosse ...E, assim, confundiu-a, de cada vez, com todos os seres animados e inanimados do Marzagão, inclusive, distraidamente, com ela mesma:- Pensei que fosse você...”
“(...) Ah, sim! Todo o sofrimento pertencia ao tempo, da mesma forma que todos os receios e tormentos com que as pessoas se afligiam a si próprias. Todas e quaisquer dificuldades, tudo quanto houvesse de hostil no mundo, sumir-se-ia, cairia derrotado, logo que o homem triunfasse sobre o tempo, logrando arredá-lo pelo pensamento.”