Filipe Russo

“Entretanto eu me sinto tão erótico a ponto da carne se incandescer em orgia hormonal.”

“Como a está para b, para b; eu estou aqui só, só pra você.”

“Mas quem eu ainda nem sou já me chama, me seduzindo com vislumbres de um outro que não consigo nem pronunciar muito menos decifrar.”

“A anos estou resvalando neste labirinto de corpos nus sem o morno do teu amor pro meu peito sossegar.”

“E com a pele? Eu movo meus cílios para vir e ver a realidade.”

“A curiosidade, interesse de ver o que há logo mais adiante move a matéria, anima a carne.”

“Eu não desejo favores nem serventia; eu desejo contato; contato com o outro, atrito abrasivo onde nos despedaçamos numa solução corrosiva dos nossos problemas.”

“Como eu posso ter vergonha de ser uma coisa que eu não tenho como não sê-la? Como eu posso ter orgulho?! Sai pra lá, Exu.”

“Eu, sacerdote, me ofereço de corpo e mente em devoção ao texto, divindade, sonhando um dia chegar a dignidade necessária para que ele, em reivindicação, venha e me possua.”

“Todo marginal se caracteriza pela violência. Minha arma? Pensamento disparado por palavra.”

“Eu detesto pactos de civilidade autenticados em cartório com direito à rescisão de contrato, processo civil, retratação pública e 10 anos de encarceramento de acordo com o novo adendo do código penal.”

“Arranco um empecilho da bota aqui, arremesso outro da meia ali; dançando numa separação de mistura onde a solução me reserva uma fase distinta, longe das toxinas alheias.”

“O sabor não reside nos alimentos e sim no indivíduo, quanto à comida? Apenas um gatilho.”

“O desejo que se encolhia aos meus pés me subiu à cabeça, agora eu não paro de palpitar.”

“O que eu não consigo racionalizar eu interpreto liricamente.”

“O que resta em mim? Se não tudo o que eu quis te dizer mas para o qual as palavras não correspondiam ao significado adequado.”

“Ao longo das eternidades eu tive muitos nomes e formas várias mas eu nunca deixei de ser a realidade.”

“Não escolho gostar de algo, eu apenas me permito ou não.”

“Você não fez nem ao menos uma pausa dramática entre me jogar no lixo e ir se esfregar com outro saco de carne.”

“Eu te amei com todo meu amor a ponto de não tem me sobrado amor próprio algum com o qual me consolar.”

“De olhos fechados me jogo no mundo esfregando minha pele nua no que existe, o que se incrusta através de meu toque magnético passa a compor meu exoesqueleto cosmogeopsicológico.”

“Só o gozo justifica a obscenidade inerente a tudo.”

“Meu coração não se afugenta num quarto do pânico, mas inferniza uma mansão inteira de síndromes em pânico.”

“Desde quando cortaram meu cordão umbilical esperneio à procura de me conectar a alguém.”

“Se eu tivesse tido o que merecia não teria me tornado merecedor deste isto que sou, coisa sem nome nem valor.”

“Reavalio os relatórios regularmente pois nem nos resultados eu deposito toda minha confiança.”

“O fracasso frutífero fornece a idéia do desejado e/ou uma novidade independente da mesma.”

“Termos de raciocínio constituem patamares; as escadarias entre um e outro se atravessa sem corrimão, de pés descalços, no próprio breu.”

“Entre uma caverna de Platão e outra as vozes se degradam em sons desconexos ou criptografados e escamoteados pela radiação de fundo.”

“Em mim habita uma saudade do que não acontecerá.”

“Eu fruí a própria treva viva.”

“Explore o fascínio e descubra o prazer.”

“Eu apenas notei o que existia mas o fascínio me reivindicou todo.”

“Sente-se o êxtase ao conduzir em beatitude através de si o fibrilar cósmico.”

“Eu vocifero labaredas e mais labaredas de feras famintas por horror.”

“O indivíduo é algo a ser sofrido para fruir-lhe o êxtase de ser.”

“Sexo com gente não equivalente constitui zoofilia.”

“Sons molhados, cheiros encharcados; eu nunca parei de chover.”

“Seja o que a entropia quiser; mas não intimide meu tímido íntimo.”

“Eu sempre chorei muito como quem adivinha a tragédia.”

“Eu nem sei mais o que me fizeram mas eu vou desfazer.”

“Evaporo pelos poros.”

“Eu danço um encantamento feito de sangue.”

“Eu fico obcecado por coisas que eu nem especialmente gosto, se eu gosto de você eu definitivamente ficarei obcecado por você.”

“Com o contorno das letras eu acorrento o mundo e seus habitantes.”

“Com os nomes eu controlo a realidade dos nomeados.”

“Com um menear imbuo a palavra com o código-fonte de uma nova realidade.”

“A internet e seus súditos derrubarão cada muro de Berlim.”

“Neste mundo de beleza a realidade se nucleia de acordo com os meus caprichos.”

“Em meus lábios arfantes floresce de desabrochar em desabrochar; a própria realidade.”