Filipe Russo

“Vontade de surfar até a rebentação, onde me arrebentaria em água e ar e luz.”

“O presente, bendito o fruto da nossa cognição despenca do passado, nossa árvore genealógica embrulhando em si mesmo o futuro, semente do desabrochar.”

“O teu cheiro eu trouxe junto comigo, tal qual certas espécies acumulam gordura para hibernar no inverno.”

“Não tem nada pra viver, eu durmo.”

“Envio num beija-flor, coração com asas, recados para sabe amores quem.”

“Se jogue ao abismo, de mão dadas comigo.”

“Sobre a frieza nós deslizamos até nos abraçarmos com todo amor, todo amor próprio necessário para roubar o calor do corpo de alguém.”

“Numa terra de asfixia nos beijamos como que egoistamente quiséssemos roubar o oxigênio um do outro.”

“Secreto segredos.”

“Eu escrevo uma salva de saudade, um funeral de flores; epitáfio para demarcar onde a vida morre em paz.”

“Eu escrevo um caixão de gravetos, uma toca de terra; papiro para untar meus restos mortais.”

“Escrevo no ar anseios de chuva, sopros de brisa; gargalhadas do trovão.”

“Eu. Sofro. Você. Doença eletiva de risco indicada para o usuário experienciar na pele a condição humana alheia.”

“Terremotos e avalanches anunciaram meu retorno.”

“Sem a tua presença eu floresci. Para fora do cadáver. Onde você me abandonou.”

“Destino sentido sentido destino.”

“Sem o teu amor eu necrosei.”

“Me deixe fluir, me deixo ir. Ao encontro com o amanhã.”

“Do meu coração goteja uma alegria que eu não consigo reter.”

“Eu me entrego às chamas de bom grado por mim e por você.”

“Eu sou à beira do abismo entre lágrimas em chamas.”

“Preparar-me só termina em salto no escuro às cegas, disparo meu ímpeto por aí.”

“Por entre você sibilo sinuoso, nu e feito de gozo.”

“Negado sim, ignorado não; ao menos uma despedida com algum tanto de dignidade, creio eu.”

“Disponho a matéria a minha imagem e tom.”

“Ponho um punhado de atenção nessa tua vida clonada pelo mimetismo, escravizada pelas instituições.”

“Distribuo qualidade à substância para dar-lhe corpo palpável, comestível e estuprável.”

“Não faço arte, eu faço edição.”

“— Ele não é seu melhor amigo?— Eu prefiro você.”

“Até mesmo hoje, vários anos depois, partes de mim ainda se desmancham sobre o reverberar daquela dor.”

“Sigo fragmentos cinéticos de mim, estilhaços que desenvolveram ideais e sentimentos próprios.”

“Durmo com fantasmas e acordo com sombras.”

“Dos meus olhos chovem lágrimas de um amanhecer sombrio.”

“Eu te conheço pelo que me falta, pelo que me excede.”

“O como eu me sinto, resultante do que vivo sintetiza em um só, unidade de solidão cada ínfimo fragmento de vivência.”

“Eu estive te esperando, te buscando... resvalando em ti a vida inteira.”

“O tempo me erodiu gravando o teu contorno em mim.”

“Mesmo com todos os adjetivos certos eu não consigo o que anseio.”

“Esperança... sempre a esperança de que aconteça o que se precisa que aconteça por mais improvável ou até mesmo impossível que seja.”

“A aflição cresce no meu peito feito uma flor.”

“O que existe ao entrar em contato comigo se abstratifica, eu ao entrar em contato com o que existe me eviscero.”

“A vida se revela pra mim, o medo se rende à curiosidade.”

“Tento separar a paranoia da verdade incompreendida.”

“Coleciono ínfimos e extremos num álbum de adesivos onde passado e futuro, pontas opostas da mesma fita curvam-se em laço sobre o embrulho do presente.”

“No meu coração se empoça uma melancolia que eu não consigo drenar.”

“Se eu não inventar a alegria eu nunca vou sorrir.”

“Eu me recuso a muita coisa; e assim eu atinjo um estado de pureza violenta, pureza violentamente violentada e violentadora.”

“Vontade sem força de vontade igual à inércia, ação impessoal; vontade com força de vontade igual à atitude, ação pessoal.”

“Não só não me reprimo como também me concentro, consolidificando em mim abstratificações cada vez mais supersimétricas.”

“A eternidades eu dispensei a hipocrisia das multidões e desde então me dedico ao fascínio de pensar.”