Filipe Russo

“Eu, uma consciência da realidade me inventei e infinitamente me reinvento.”

“Tudo consome tanto tempo e energia que eu só invisto em minhas atividades favoritas.”

“Eu modulo a informação: internar o mundo entristece, desinternar o mundo alegra.”

“Nada me fez acontecer, eu possibilito eu mesmo e o resto se realiza sozinho por entropia e inércia.”

“Pra onde as coisas vão eu me pergunto em vão.”

“Ao receber elogios melhoro minha autoestima pela vaidade, ao produzir obras melhoro minha autoestima pelo orgulho.”

“A realidade se realiza sozinha sem caridade nenhuma de um suposto divino.”

“Até agora as fagulhas de minha última grande aurora ainda ricocheteiam por aí me iluminando.”

“Novidades brotam em mim arranhando a face interna de meu rosto e caso eu não as exorcize via escritura irromperão em tentáculos através de minha boca e narinas, pálpebras e orelhas.”

“Quem quer se matar mesmo já se matou, amém.”

“Eu cangrito eu mesmo, seja lá o que for.”

“A presença alheia me debilita colapsando meus estados quânticos sobrepostos.”

“Eu estou morrendo desde quando nasci, a poucos instantes atrás.”

“Meu momento já passou. Bem na frente dos meus olhos. Agregando-se as minhas partículas.”

“Senti sem ti destino sentido sentido destino.”

“As palavras pulsam em mim aderindo umas as outras rumo ao pronunciamento.”

“Fremo fibrilações afrodisíacas.”

“O amor se acumulou dentro de mim assumindo o volume arquitetural de diversos clones, cada um com sensibilidades e inteligências próprias.”

“Assassino uns colossos para relaxar.”

“Corrijo meu humor vendo breakfast at Tiffany's.”

“Mato o assunto mas ele volta pra me assombrar.”

“Eu sofri decaimento nuclear me degradando em várias espécies radioativas menores.”

“Bocejo sonolento um lento esboço de sonho.”

“No encaracolar do teu cabelo eu me cubro por inteiro, no teu bumbum eu deito o rosto e durmo.”

“Meu amor por ti me anestesia com sinestesia.”

“E alguma coisa ainda vale alguma coisa? Tudo etiquetado com preço, nada valorizado com apreço.”

“Entre eu e o resto da realidade não há intervalos: leia as minhas vértebras.”

“Eu teço em ti uma melodia de sossego.”

“Evaporo pelos poros embolorando os mundos com pólen, meu farelo germinativo.”

“Me apoio no mundo que carrego nas costas: uma corcunda a abrigar toda uma bagagem cultural.”

“Rio rios.”

“Me livro em livro, de toda carcaça carnal.”

“Me catalogo em catálogo.”

“Prospero próspero: a cada dia eu acordo de um coma diferente.”

“Um fogo retificante arde em mim; corrigindo erros, aperfeiçoando acertos e inventando a graça.”

“Sobre você me nuclearei em meu cristal mais supersimétrico.”

“No uivo da tua carne eu ouço o da minha.”

“Onde você escondeu todos os dias que desperdiçamos juntos?”

“Das melhores amizades nascem os piores inimigos.”

“Eu perfumo a palavra com o sabor dos teus sorrisos escorrendo pelo meu corpo.”

“Alguém deseja estar comigo? Apenas estar eu digo. Estar fruindo toda minha presença até os corpos se esfarelarem de vez.”

“Me disfarço bem porque não preciso mentir, a verdade me mascara, omiti e camufla todo.”

“E sobre toda matéria decanto buscando quem me dê ouvidos.”

“Eu toco em ti a música que tu queres ouvir, nostálgico ritual profético de celebração.”

“Eu te conservo na memória, resto quase apenas psicossomático.”

“Eu gargalhei até espantar o horror para fora de mim.”

“Vidrado, escancarado e gritante eu cangrito vidro trincado, estilhaçado e água negra.”

“Eu me plugo a ti invadindo tua fortaleza sem portas até enfim despetalar-te em chamas carnavalescas, abissais e untadas a mim.”

“As portas se calam para as paredes recomeçarem.”

“Eu estou a uma à espera de distância, a uma à procura daqui.”