Filipe Russo

“Resvalo. Em tudo o quanto eu quis de mais vivo e quando me viro pra ver já não há mais nada ali, nem ao menos uma névoa de mistério pairando no ar.”

“Do frio dos teus pés ao morno do teu hálito, eu estou contigo.”

“Eu te incorporo através de cada poro.”

“Há quem constrói os degraus e quem sobe os degraus e quem salta os patamares.”

“Escrevo um trabalho braçal de pensamento esmurrado ao papel.”

“Eu sacrifiquei uma vida inteira de possibilidades e oportunidades para que você viesse à vida.”

“Eu te leio com a ponta dos dedos, com a curva dos cílios.”

“Tomo a mão da intuição e juntos saltitamos os padrões de calçada cada vez mais comidos pela terra.”

“O seu sorriso me cravejou de estrelas, cada uma irradiando vários gigaelétron-volts de alegria.”

“Meu cão despreza nosso sistema de castas, onde mamíferos humanos comem lasanha e mamíferos caninos comem ração.”

“Guia guia guia.”

“Espelho esplendor resplandecente e embaço-me novamente.”

“Recitar o texto me ressuscita.”

“Construo pontes de Van der Waals entre o aqui e o que quer que haja além das fronteiras das pastagens.”

“No escuro eu fico supersticioso.”

“Hoje sonhei que era dono de um crocodilo filhote de cinco cabeças.”

“Despenco em sono leve sobre a penumbra macia e aveludada, a qual vagarosamente me digere.”

“O meu desejo tempera a matéria bruta com o mais delicado prazer.”

“Tua beleza me atordoa.”

“Eu reajo bem à esfericidade craniana, gosto de lamber a cova de nucas raspadas à navalha.”

“Prefiro cativar a seduzir, mas cativar não seria uma sedução mais ingênua e inocente e inócua? Até mesmo eletrostática.”

“Em noite de Lua cheia eu interfiro nas novelas.”

“Abrigo perigos em cada uma de minhas penumbras.”

“Reduzi os fantasmas do passado a meras imagens quebradas mas mesmo assim eu não os exorcizo de vez, temendo mais o esquecimento do que a própria morte.”

“Eu me joguei do sétimo andar da linha de produção.”

“Se eu sentir muito eu lembro, se eu lembrar muito eu encontro.”

“A tua presença me eletriza.”

“Sedento por fruir o néctar dos teus lábios beijo-te e cada encontro me satisfaz, pouco antes de me esfomear ainda mais.”

“Eu, estátua de areia, emergi das dunas desérticas.”

“Eu flamejo a fusão nuclear das estrelas.”

“O que foi nunca vai deixar de ser então levanto as velas rumo a novos horizontes.”

“A lucidez apaziguou a revolta a ponto de eu enfiar a caneta no papel ao invés de na glote alheia.”

“Você não pode me trincar e esperar que eu não estilhace.”

“Me destilo em lágrimas de um amanhecer sombrio.”

“A gravidade do teu olhar atrai a minha massa conferindo-me peso.”

“Me olhe até eu desintegrar.”

“E doutor, o senhor poderia, por favor, calcular o diâmetro da minha dor?”

“Se você tiver alguma coisa do meu passado me manda, eu coleciono o que me aconteceu.”

“Quantos enfeites para celebrar a vida? Ou mascarar a morte?! Eu desenho com ousadia a exata quantidade necessária pro meu peito sossegar.”

“Eu acredito fácil numa certeza apodítica e a dificuldade de acreditar sem indícios? O ato de fé, um salto no escuro ao invés de quebrar as minhas quatro patas e a cauda me transportou até aqui.”

“Uma lágrima ousou escorrer por entre uma das rugas, vales erodidos pela roda dentada do tempo que tem talhado minha face desde idade tenra.”

“Eu transvidro-me num espelho trincado de água negra.”

“Há em mim verdades que jamais direi, algumas por não saber como e outras só por não querer.”

“Eu gosto de decodificar um jogo mais do que jogá-lo.”

“Nada escapa ao meu horizonte de eventos.”

“Estabilizo meu humor com suco de tangerina, mas nem todos ácidos e açúcares conseguem minimizar a gravidade apocalíptica do desejo.”

“Eu vivo na velocidade do pensamento.”

“Paro pra pensar; penso, penso e não paro de pensar.”

“Cada um funciona de acordo com sua própria lógica improvisada.”

“Me movo uma distância de Planck a cada eternidade.”