“O que é sensível tem de morrer pelo fogo, qual borboleta frágil da noite. E é por isso, diz Erika Kohut, que estes dois seres doentes à mais alta escala, isto é, Schumann e Schubert, irmanados pela partilha do mesmo prefixo, são os que têm um lugar mais próximo do meu coração dilacerado. Não o Schumann a quem já todos os pensamentos desertaram, mas o Schumann, mesmo mesmo antes disso ter acontecido! Uma unha negra antes disso! Ele já adivinha a deserção do seu espírito, já sofre com isso até aos seus vasos mais capilares, despede-se já da sua vida consciente, embrenhando-se pelos coros dos anjos e dos demónios, segura-se, porém, mais uma última vez, não mais possuidor da sua total consciência. Ainda um perscrutar nostálgico mais, o luto pela perda do bem mais precioso: ele próprio. A fase em que ainda se sabe o que em si próprio se perde, antes de renunciar por completo.”
“O Homem tornou-se arrogante, prepotente e insensível! Apesar de todos os avisos, o Homem não hesitou em mergulhar numa existência de imoralidade sem limites! Uma existência em que os abastados arrancam o pão da boca dos mais pobres! Uma existência em que os fortes enxovalham os mais fracos! Uma existência onde o amor pelo próximo é considerado uma fraqueza! E agora, é chegado o dia de fazê-los regressar a uma condição de proba humildade. Não percebes, Michael? O espírito do Homem foi infectado pelo vírus da corrupção e da crueldade. E o Apocalipse, por mais brutal e tenebroso que seja... é a única forma de combater essa infecção.”
“O fogo é um preciso aliado do homem mas é perigos para uma criança que não o saiba utilizar. Passa-se o mesmo com certos conhecimentos. À escala da humanidade os homens não são mais do que crianças, olhai o nosso mundo e vede como nos falta educação.”
“Oferecer o corpo como objeto agradavável, dar gratuitamente prazer: é isso o que os ocidentais não sabem mais fazer. Perderam totalmente o senso da doação. Podem até se esforçar, mas não conseguem mais sentir o sexo como algo natural. Não apenas têm vergonha dos próprios corpos, que não estão à altura dos que vemos nos filmes pornôs, mas também, pelo mesmo motivo, não sentem nenhuma atração pelo corpo do outro. É impossivel fazer amor sem um certo abandono, sem a aceitação ao mesmo tempo temporária de um certo estado de dependência e fraqueza. A exaltação sentimental e a obsessão sexual têm a mesma origem, as duas nascem de um certo esquecimento de si mesmo; neste terreno, a gente não pode se realizar sem se perder. As pessoas se tornam frias, racionais, extremamente conscientes da sua existência individual e dos seus direitos (...) realmente não são as condições ideais para fazer amor".”
“O próprio são Tomás de Aquino diz isso, matarás, se necessário, matarás em nome da lei, diz Tomás de Aquino, quer dizer não é bem isso que ele diz, mas é mais ou menos isso, estou adaptando, entendeu? O que ele quer dizer é quem mata em nome da justiça não é um criminoso porque isso Não é crime, deu para entender?”
“Disseram-me que não se pode quebrar um coração a alguém que o já tem partido. E eu pensei, pode. Podemos sempre partir os bocadinhos do coração em bocadinhos mais pequenos, amachucar ainda mais o que nos resta, como se nos tirassem o último sopro de vida.”